Skip to content

Dia Mundial da Esclerose Múltipla

30 de maio, 2025

Dia Mundial da Esclerose Múltipla

Graças aos avanços na medicina, viver com Esclerose Múltipla já não significa inevitavelmente perda de autonomia — mas o diagnóstico precoce continua a ser essencial

A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença neurológica autoimune do sistema nervoso central, resultante de mecanismos inflamatórios e neurodegenerativos, cuja causa se mantém ainda desconhecida, embora existam vários fatores de risco identificados, como por exemplo, o défice de vitamina D (diretamente relacionado com a menor exposição solar), tabagismo e infeção prévia pelo vírus Epstein-Barr. Esta doença começa a manifestar-se, mais frequentemente, em indivíduos jovens, pelos 30-35 anos, contudo pode surgir em idade pediátrica ou após os 65 anos. A nível global, estima-se uma prevalência de 60 a cada 100.000 indivíduos, com algum predomínio no género feminino, sendo que em Portugal se crê existirem cerca de 8.000 pessoas com EM. Ainda é uma das principais causas de incapacidade, não relacionada com traumatismos, em pessoas jovens.

Esta doença neurológica foi descrita pela primeira vez há mais de 150 anos, pelo célebre neurologista francês Jean-Martin Charcot. Durante muitos anos foi considerada uma doença incurável e sem tratamentos, minimamente eficazes, para modificar o seu curso natural de causar incapacidade irreversível à maior parte dos doentes. No entanto, desde o aparecimento dos primeiros medicamentos que demonstraram poder modificar o curso da doença, há cerca de 30 anos, temos vivido um período de verdadeira revolução no tratamento da EM. Muitos dos medicamentos que têm aparecido na prática clínica nos últimos 10-15 anos, têm demonstrado um excelente perfil de eficácia e segurança, o que tem permitido modificar o conceito da “EM clássica”, de incapacidade irreversível após algumas décadas de doença e um percurso quase inevitável para apoio de marcha ou cadeira de rodas, num conceito de “EM moderna”, na qual este cenário é cada vez mais a exceção e não a regra. A doença é a mesma, contudo o que sabemos sobre ela e o que podemos modificar não.

Infelizmente, mesmo com a inovação terapêutica no que concerne a prevenção de surtos e de novos focos de inflamação na EM, existem várias componentes inerentes a esta patologia para as  quais ainda estamos longe de conseguir formas de as combater eficazmente. É o caso das formas progressivas de EM, fadiga, dor, sintomas de disfunção urinária e intestinal, sintomas de disfunção cognitiva e dificuldades na marcha.

No seio de todos estes avanços e obstáculos, aquilo que a comunidade científica tem realçado é a importância de um diagnóstico precoce e preciso, para introdução de medicação modificadora da doença atempadamente. Estes são aspetos importantes que conseguimos, de alguma forma, manejar e controlar, e que podem determinar um melhor prognóstico futuro, independentemente de outros fatores existentes relativos à doença que não podemos controlar.

Dr. João Ferreira

Neurologista, CNS – Campus Neurológico