A Humanidade dos Enfermeiros
A enfermagem é, historicamente, a ciência do cuidar, mas não se resume à lamparina de Florence Nignthingale. Atualmente, os enfermeiros têm um papel fundamental em todos os serviços de saúde e áreas de intervenção, estando, quase sempre, nas “trincheiras” dos maiores desafios em saúde. Os enfermeiros têm valor pelas suas formações académicas, percursos profissionais e, sobretudo, pela sua visão holística e centrada na pessoa. Já o Papa Francisco dizia que “os enfermeiros são peritos em humanidade” e essa humanidade, associada ao conhecimento técnico-científico, faz destes profissionais importantes pilares dos cuidados de saúde, sobretudo em situações clínicas mais complexas, como as doenças neurodegenerativas.
Embora seja considerado um triunfo da sociedade, o envelhecimento global constitui também uma preocupação demográfica e epidemiológica, pois não se traduz necessariamente na preservação da saúde e qualidade de vida até à morte. Apesar de atualmente se viver durante mais tempo, não se vive necessariamente melhor. Na população idosa verifica-se o efeito cumulativo das fragilidades e morbilidades inerentes ao envelhecimento, muitas vezes traduzidas em doenças progressivas e incuráveis. Nesta população, os cuidados assumem algumas especificidades, tendo em conta o impacto que os problemas clínicos podem ter na sua fragilidade prévia. Esta complexidade exige uma abordagem multidisciplinar e multidimensional, com ponto de partida na avaliação das capacidades e necessidades individuais, assumindo o enfermeiro um importante papel de coordenação de cuidados e intervenções integradas (farmacológicas e não farmacológicas), tornando-se um profissional de referência para a pessoa doente e família. Os cuidadores familiares são, tendencialmente, pessoas fragilizadas, com risco aumentado de morbilidade pela carga de exaustão psicológica, física e emocional, pelo que os cuidados centrados na pessoa doente devem ser extensíveis aos seus familiares.
Cerca de 43% dos idosos vivem com a família, em casa, o que realça o papel do cuidador familiar e sustenta a necessidade de apoio e orientação dos cuidados também na comunidade, onde os enfermeiros são os profissionais de proximidade com competência para avaliar e intervir na pessoa, em todas as dimensões. Assim, em todos os contextos de cuidados (seja na comunidade ou dentro das instituições), os enfermeiros devem ser capazes de proporcionar suporte e conforto à pessoa doente, valorizá-la, manter a esperança, preservar a dignidade, estar presente, ser empático, conhecer bem o doente e família e ter a capacidade de se manter atualizado nos conhecimentos, garantindo a qualidade e sustentação das suas intervenções, bem como a articulação com outras equipas de saúde.
A abordagem multidisciplinar é essencial para garantir o melhor acompanhamento das pessoas com doença neurodegenerativa, sendo uma prática sustentada pela evidência científica. A coordenação das diferentes áreas de intervenção deve ser realizada por um profissional de referência e proximidade, que contemple o percurso evolutivo da doença e consiga estabelecer uma relação de confiança e empatia com a pessoa doente e família, estando disponível para cuidar, mas também para apoiar e orientar – esse profissional é muitas vezes o enfermeiro, aquele que é perito em humanidade e de quem a Humanidade precisará sempre.
Enf. Marta Pires
Enfermeira, CNS – Campus Neurológico